quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Pedro Simões

           Dona Maria, empregada do menino de ouro, foi busca-lo na escola. Pedro não lavava as mãos e ria-se quando ouvia: “olha os germes, menino!”. Pedrão era o atacante da turma. Pedrinho era o filho preferido, o neto escolhido, o sobrinho mais querido. Aos sábados, a arquibancada do pequeno campo de futebol quase não sustentava tantos Simões. Pedro Simões era nota 10, às vezes 9 e “olhe lá”, contava o pai, Seu Orgulhoso, no Natal. No último não deu tempo: “Vai buscar a Coca-Cola enquanto converso com seu pai, Pedro”. Reclamou. Menino mimado tem como mimo achar que sempre faz tudo. 
          Voltou ainda resmungando, mas viu que tinha motivos maiores para se preocupar: o olhar de seus pais voltado a ele. Em seu diário, depois, podemos encontrar a busca por palavras para descrever aquele olhar: confuso, assustado e um garrancho riscado que sabe-se lá. Pedro nem imaginava, mas, no fundo, tinha certeza. Encontrou um pouco do que buscava ao ouvir mais tarde a voz irritante de sua tia: “Parece que a mãe dele foi algum tipo de taróloga.” A mãe de Pedro era cética, pelo o que sabia.
          Dia 26 de Dezembro e “mãe, vou viajar no ano novo”. “Precisamos conversar antes”. Era sobre a ligação da mãe do Carlos e a resposta que Dona Cética foi buscar no tarot. Essa foi buscar Seu Orgulhoso e Pedro sentou-se suando frio. Buscou o incentivo de seus amigos por mensagem, mas estes só queriam saber da viagem. Buscou um modo de mentir, mas viu que não tinha como. Buscou um modo de se desapaixonar mas... “não, tudo menos isso”. Seus pais sentaram. “E aí?”. Buscou um modo de mostrar que já tinha buscado de tudo para buscar-se e eis que buscou as palavras certas para dizer: “sou gay.” 
          Ouvi dizer que Seu Orgulhoso está buscando novos apelidos e que Dona Cética ligou para mãe de Carlos: “nossos filhos namoram”. A verdade de Pedro era tão bem guardada que, empoeirada, buscava formas de sair. Escolheu fingir que era obrigada, talvez fosse mais fácil. Pedro não era nem mais Pedrão atacante nem mais o querido Pedrinho. Estava perdido, depois de se encontrar. “Mamãe só queria saber das pedras que atiramos na casa ao lado”, foi a última mensagem que mandou no dia 26. O resto do dia ele tirou para buscar a coragem que no fundo já tinha encontrado. 

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