quarta-feira, 3 de abril de 2013

Tiute.

             As coisas andam como se eu, que pensava as acompanhar, estivesse sendo enganada. Elas correm, voam e pousam como quem finge estar por perto mas aparece lá na frente. Elas acenam, olham e gritam: "foi você quem me empurrou". Empurrei, presenciei, criei. Criamos. Criamos o que negávamos, do que fugíamos. Criamos o que veio do nada.  
               Eu perdi o medo, o pudor, a roupa. Ganhei voz, coragem, calma. Pensei em parar. Parei de pensar. Me perguntei que motivos me levavam a querer fazer, da minha cabeça, um dispositivo de procura. Eu digitava as palavras erradas para resgatar qualquer informação solta, como um desesperado que tem prova de logarítimo e joga na internet o que é multiplicação. Soltava o futuro para entender o presente. O passado para adivinhar o futuro. 
               E deu tiute. Parou. Desligou. Antes de tentar concertar, vi que não é por acaso que parou de funcionar. Percebi que o meu rosto preocupado não refletia meu coração que sorria como quase nunca. E qual, se não o coração, o melhor vírus para parar uma máquina cheia de querer trabalhar? Não tem o que juntar, o que esperar, o que temer. Ter amado, ter dito, ter sentido. Já valeu a pena, mesmo se nunca correspondido.
           A gente sabe das coisas. A gente sente as coisas. A gente meio que esconde que sabe o que tem certeza, porque a certeza se confunde com desejo. A gente sabe o que você quer, a gente sabe o que eu quero. Mas a gente pergunta, a gente não responde. A gente tem medo, mas a gente da um passo cada vez que um pouco de coragem aparece. Eu disse. Você disse. A gente disse. A gente não acredita um no outro, a gente só acredita na gente. Ou será que eu é que acredito na gente, sozinha?