domingo, 19 de maio de 2013

Acorda.

                   A arte desperta. E qual a melhor maneira de faze-la senão criar um sono profundo? A gente tira o tênis apertado e a calça que machuca. Deitamos na arte como quem anda por horas em ruas que parecem as mesmas. O barulho do caos já não existe, os passos com pressa estão passando pela porta fechada e os olhares aflitos não conseguem contagiar os nossos, que saem da arte brilhando. A arte não saiu de nossas pupilas. Pudera.
Dorme em paz. Mas não muito. Programa o despertador. Não esquece do ciclo. Acorda, fecha a calça que machuca e veste a cara. 

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Pulei.

                 Achei um trampolim mais alto. Não tenho mais ninguém para gritar "vai" mas, ao contrário, a maioria lá em baixo também tem medo de que eu pule. Tenho, no máximo, uns poucos incentivos que nem sequer consigo ouvir.
                Tenho medo. Tanto. Mais do que já tive. Estou sozinha. Coloco a ponta do pé para fora e posso desistir só de sentir o vento em centímetros do meu corpo. Faço cara de espantada igual a todos os que me olham mas, como um empurrão que vem de dentro, me jogo como quem não se prepara antes do pulo - parecido com aquela corrida irresponsável de criança, junto com a testa franzida do salva vidas e o comentário de quem escuta o barulho. A barrigada dolorosamente impecável de boa. Pulei. Mergulhei. Doeu. Passou. Respirei.